História da vida religiosa

Recorda os dias que se foram, repassa gerações e gerações... Pergunta ao teu pai e ele contará, interroga os anciãos e eles te dirão. (Deut 32,7).

Na Exortação apostólica Vite Consacrate, João Paulo II recordava o período delicado e árduo da vida religiosa contemporânea e convidava os religiosos a empenhar-se com novo ardor, porque a Igreja necessita da contribuição espiritual e apostólica de uma vida consagrada renovada e vigorosa (VC, 13).

A História está repleta de nomes de mulheres e homens que viveram desde uma espiritualidade profundamente encarnada, aprenderam a decifrar o inédito de Deus em seu tempo e souberam dar uma resposta possível aos desafios do seu tempo. Uma congregação religiosa não pode ser reduzida a um simples ato fundacional, mas é fruto de um processo dinâmico, ao qual foi chamado a assumir no passado, mas também no presente e em um futuro próximo. Refletir sobre a vida religiosa feminina de ontem, de hoje e de amanhã, significa ir ao encontro das raízes mais profundas do nosso viver cotidiano na missão e em diálogo com a cultura contemporânea.

Cada geração carrega consigo o paradoxo dos seus próprios desafios e contradições. E não se pode viver de rendas! Cada geração é chamada a afrontar um repensar a fundo os próprios caminhos, meditar e fomentar uma reflexão aberta sobre os maiores desafios, assumir prioridades e tarefas para continuar sendo sal e luz (Mt 5, 13-16), e inconformados com este mundo (Rm 12,2). Uma séria valorização das próprias raízes dá consistência de sujeitos históricos, pode oferecer qualquer mapa para seguir caminhando no tempo e desprender novas energias para assumir as novas tarefas históricas à luz do Evangelho.

Se não existe esta autoconsciência, estamos destinadas a ser arrastadas pelos ventos mutáveis, pelas impressões fragmentadas, reações instintivas, horizontes estreitos, prisioneiros, em última instância da cultura dominante, de quem exerce o poder, com o perigo eminente de ser enrolados e assimilados pela sua agenda cultural, por atitudes e comportamentos induzidos, seleção de informações, modas difundidas e estilos de vida diversos.

Imprimir novos caminhos implica antes de tudo saber para onde caminhar e isso supõe profunda consciência de sujeitos históricos. Inaugurar novas estradas significa enfrentar os desafios e tarefas decisivas, firme determinação, inquietude, confronto, paciência e serena inteligência, suor e lágrimas, e profunda comunhão eclesial.

Esculpir novas sendas significa também uma releitura dinâmica do passado que renove as razões de nossa esperança cristã, que alimente mentalidades inquietas e sábias capazes de dialogar com a cultura contemporânea em busca de novos e velhos caminhos, que recuperem o tecido comunitário e o espírito de serviço, que em síntese não é mais que assumir nossa vocação cristã e consagrada no mundo, sem ser do mundo (cf. Jo 15, 19).

 

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A ignorância do passado não se limita a prejudicar a compreensão do presente; compromete, no presente, a própria ação.... O conhecimento do passado é uma coisa em progresso que se transforma e aperfeiçoa incessantemente (M. Bloch, O oficio de historiador).

Os historiadores, escreveu Aristóteles (Poética, 51b), falam sobre o que aconteceu (real, verdadeiro), os poetas do que poderia ter sido (possível). Naturalmente que a verdade é um ponto de chegada, e não um ponto de partida. Os historiadores (e, de um modo diverso, os poetas) fazem por ofício algo que faz parte da vida de todos: desvendar o enredo intrínseco de verdadeiro, falso, simulado que é a trama do nosso estar no mundo (Carlo Ginzburg, Il filo e le trace. Vero falso finto).

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